sexta-feira, 16 de novembro de 2018

Eu pedi um amor...

Pedi um amor e ele me deu um bolo mofado. “Eu pedi amor”, disse.
– Isso é amor.
– Mas não vai me fazer mal?
– Talvez.
Olhei e novo e percebi uma larvinha de mosca saindo da cobertura.
– Vai querer ou não? – Ele olhava a larva também.
– Não sei. – A larvinha agora afundava cada vez mais no bolo.
– Eu não vou ficar parado o dia todo aqui, sabe.
Lembrei que não sabia cozinhar e levei o bolo para a casa. Primeiro tentei tirar tudo que se movia na cobertura, mas era impossível . Me contentei em raspar o mofo, fechar os olhos e engolir uma garfada.
Vomitei.
Dormi com o estômago roncando e acordei com dor de barriga dos infernos. Não saí de casa nos próximos três dias: sem amor, não tinha vontade de tomar banho nem de escovar os cabelos. Não queria olhar o céu e nem os olhos das pessoas. No quinto dia sem amor, não quis abrir as pálpebras muito menos as janelas da casa.
Prestes a perder as forças, olhei para a mesa e resolvi tentar de novo. O estômago reclamou, mas não devolveu. O intestino resolveu não opinar. Fui dormir indigesta e ao mesmo tempo aliviada. Pela manhã, as maquiagens do banheiro voltaram a fazer sentido. As roupas no chão pediram para serem penduradas. A maçaneta da porta pedia para ser girada e eu obedeci.
A cada passo eu sentia o estômago revirar, mas também sentia que estava viva. Segui na rua disfarçando uns arrotos enquanto olhava vitrines.
À noite, resolvi encarar o bolo de novo.
Ele não pareceu tão ruim quanto no dia anterior. Na verdade, olhando de lado nem dava para ver a parte feia. Segui comendo o bolo, segui com o estômago revirado e mais importante: segui com vontade de entrar no ônibus e pagar minhas contas.
Até que o bolo acabou.
Preocupada, fui até ele pedir mais amor. O bolo que ele me entregou estava coberto de moscas.
– Está fedendo demais. – comentei.
– É o que eu tenho.
Não consegui colocar sobre a mesa da sala, já que atraía mais moscas. Botei dentro do forno e cortei uma fatia: o cheiro era insuportável. Tampei o nariz aproximei o garfo da boca, tentando não mastigar as moscas mortas. Sabendo que não poderia ficar sem amor e nem me livrar de todos os insetos, engoli. O estômago não roncou nem a garganta contraiu: já estavam habituados.
Quando o amor acabou, ele me entregou um prato fundo.
– Mas isso é vômito!
– Eu chamo de amor.
Entendi que era bolo vomitado e resolvi guardar na geladeira. No dia seguinte provei uma colherada antes de ir trabalhar, e, para a minha surpresa, eu já não sentia mais gosto de nada. Tomei outra
colherada à noite, pra garantir que iria ter vontade de tomar banho e sair com meus amigos.
No dia seguinte tive um pouco de febre, mas segui dando umas colheradas. Dois dias depois, a cabeça doeu. A febre voltou.
A garganta inchou.
Sem conseguir engolir o amor, fechei as cortinas e esperei a morte bater. Quando ouvi o som da campainha, suspirei aliviada.
Mas não era ela.
Não era alguém que eu conhecesse. Tinha cabelos encaracolados e trazia um prato com uma espécie de massa branca. Leve, limpa, tinha cheiro de primavera.
– Isso não é amor. – Eu disse.
– É amor, sim. – Parecia surpreso.
– Não, não é. – Eu ri.
Os olhos dele encheram de lágrimas. Antes que eu pudesse mudar de ideia, levou a torta de creme embora.

domingo, 12 de março de 2017

A espera



Não é fácil esperar, a espera causa aflição, angustia, o chão parece sumir, nos vemos perdidos, não sabendo em quem ou ao que recorrer, a espera dói.
Mas devemos erguer nossos olhos, nosso socorro vem do alto, vem de nosso Pai, é difícil manter nossa fé tão firme quando nosso coração dói, quando tudo parece acontecer em nosso redor, quando nos vemos na escuridão, difícil de suportar os pesos do dia a dia, o peso da cruz, nos vemos sozinhos,perdidos, mas não devemos desistir, a espera dói, mas ira valer a pena, devemos saber que Deus cuida de nós mesmo no silencio, devemos saber que é no silencio que Ele trabalha. 
Não temos noção do que é ter a presença dele, devemos confiar, Ele vira em nosso socorro, a espera pode ser longa, dolorosa, mas quando chegar o grande dia, vamos ver que cada dor, cada pedacinho nosso que foi deixado pra trás, valeu a pena.
Uma lagarta, demora cerca de um ano para virar uma borboleta, ela tem que resistir durante esse um ano, esperar, e confiar, que ela ira ter sua recompensa, e quando ela finalmente consegue se fechar em um casulo, ela se machuca, para que possa ter suas asas, logo que essas ficam dentro de seu tórax.
Quando vemos lindas borboletas voando ao nosso redor, nem nos atentamos a isso, e assim devemos ser, suportar nossa espera, seja ela qual for.